30 de outubro de 2008

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Da minha janela não avisto o Tejo, não
avisto um rio. A minha janela dá para o
fundo de um quintal. É nele que sossego
ambos os olhos se está frio. E nele te
imagino pássaro a acenar-me do beiral.


Da minha janela não avisto nenhum mar. A
minha janela prende-me do mundo. Foi
fechada a sete chaves no Outono. Para que
ninguém possa lá entrar.


Da minha janela vejo a lua. Com ela falo
noite e dia. Se não vem em meu auxílio é
um tormento. Tremo de frio e recordo o dia
em que fui tua.


Da minha janela sou uma prisioneira. Que
fugir só pode com o olhar. E como ela se
vira para o jardim. Vejo por mim as flores a
chorar.



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28 de outubro de 2008


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Leva tudo o que é teu. O cheiro, o jeito, a ternura,.. Não me deixes nada! E o que não quiseres levar deixa no lixo. Que não fique o toalhão molhado sobre a cama. Que não fique um único fio de cabelo nos lençóis. Que não fique uma única palavra perdida pela casa. Leva-as todas! Já não sei distinguir o que é falso do resto. Já nem me importa tentar fazê-lo. Leva tudo! Abrirei as janelas à tua saída para que a casa se liberte de ti. As paredes pediam-me para te calar a voz. As flores murchavam mais depressa na tua presença. A casa, agora minha, ficará alegre. Soprará um vento de fidelidade por baixo das portas. O sol deixará de ter receio de aquecer o quarto. A lua trespassará de novo as cortinas da sala. E a felicidade voltará aos meus braços. Por isso, leva tudo, não te esqueças de nada!


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26 de outubro de 2008

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Se eu pudesse escolher a cor dos sorrisos que me olham, preferiria seguramente a cor do teu. Se eu pudesse ouvir apenas as palavras que entoam verdades, escutaria seguramente as tuas. Se eu pudesse sentir a música este Outono, tocaria seguramente no meu coração o teu piano. Se eu pudesse...!
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24 de outubro de 2008


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No silêncio da noite poiso a cabeça no colo do meu amor. Descanso as mágoas sobre as suas coxas. Enlaço os meus braços entre os seus joelhos. Adormeço... sem hora de acordar.
No silêncio da noite o meu amor poisa a cabeça no meu colo. Descansa as palavras sobre as minhas coxas. Enlaça as suas memórias nas minhas. Adormece... atreve-se a sonhar.

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23 de outubro de 2008


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Um dia chego. Um dia parto. Um dia... deixo-te a falar sozinho. Quando o sangue ferve, os regressos são ultrapassados pelas partidas. Sinto-me constantemente a prepará-las. Parto sem destino, eu sei! Mas... que importa ficar? Numa dessas partidas hei-de ir dar a um areal. Nesse areal me espera um mar. Nele vou ficar. Os seus braços estão vivos para me agarrar. Sem me prenderem, vou ficar! Terei alguém para me salgar o olhar.


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22 de outubro de 2008

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Qual é a medida do amor?
Mede-se num ir e vir infinito de olhares? Numa pressa de partir para chegar? Em lágrimas de felicidade vertidas ao ouvir de novo a tua voz? Em léguas palmilhadas de mãos dados nas tardes de sábado? Nas vezes que se trauteia uma melodia que nos eterniza? No sorriso dos filhos que temos juntos? Nas danças suadas corpo a corpo? Naquela conversa que nos tortura a mente? Na telepatia? No sentir o que tu sentes?
Qual é a medida do amor?
A medida do meu amor és tu!
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21 de outubro de 2008

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Chamaremos Vénus em auxílio do amor que nos foge entre os dedos e que sepultamos muito abaixo de uma qualquer pedra. A inquietação é darmos o jogo como perdido antes de nos munirmos da afrodisíaca receita. A inquietação é não dar tempo a ele mesmo para que o deixemos preparar-se. Por isso amarelece, envelhece e morre! A inquietação é um misto do não haver limite, e nos limitarmos.

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18 de outubro de 2008

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Não temas que me repita se tudo o que canto é este fogo de amar e sofrer. Não vires as costas se a minha voz rouca te parecer cansada. É esta a cor que o meu sangue transborda em melodias de pintar o silêncio. Não me culpes de sorrir. Não consigo esconder a ternura dos meus olhos que reflectem o calor de mim. Não julgues. Deixa-me adormecer em ti... Quando acordar tudo recomeça.

de Pedro Branco

ofereço a foto como agradecimento


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17 de outubro de 2008

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Lenga-lenga (porque me apeteceu brincar)

Lá vai a Maria
a casa da tia
vai em cantoria
como a cotovia
bolachas comia
enquanto corria
chegada à tia
na porta batia
saúda-a a tia
com grande alegria
viu que na mão Maria
bolachas trazia
perguntou-lhe a tia
se as fazia a Maria
pois sim, minha tia
respondeu Maria
e que bem lhe sabia
a que agora lambia
trago-as para a tia
e uma caixa oferecia
a bela Maria
à gulosa tia.
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15 de outubro de 2008

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Hoje afogo-me no amor que te tenho. Sinto-o escorrer-me pelo corpo, quente. É tão grande que o ar parece faltar-me. É um sufocar doce num ar leve que me pesa o peito.
Qual é a medida do amor?
Ontem, amava-te uma medida a menos e amanhã vou amar-te uma medida a mais. Seja ela qual for.
Imagina quanto te amarei depois de uma vida a teu lado!

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9 de outubro de 2008

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Não me importa o que foi, se já não é!
Começarei a contagem dia a dia, se preciso for!
Os pássaros nunca olham o sol em pleno dia. Não que a timidez os assole no voo ou não queiram enfrentar a vida. Apenas não o podem fazer. Sabem-no!
Se não iniciei hoje uma nova contagem, faço-o amanhã... ou depois! Faço-o assim que assistir em voo ao por do sol.



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1 de outubro de 2008

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Acaricia-me os pés com a língua molhada. Sobe. Envolve-me os tonozelos num sobe e desce aquático. Embrulha-me em ti. As minhas pernas afastam-se na medida exacta da rotação das rótulas. Ondeio. Serpenteio em ti. Chega-me aos joelhos em suaves golpes... como se fosses mar! Como se em ti houvesse ondas naturais e não apenas das batidas no paredão. Sobe. Ou queres que eu desça? Lambe-me as coxas no leve passar das horas.
A minha roupa humedeceu contigo sobre mim. Ainda podes subir mais. Atingir-me a parte quente que trago recatada entre as pernas. Humecedes-me mais. Um contínuo movimento de subida dentro do teu habitual vagar. Obrigas-me a descer para melhor te provar. O teu braço enlaçou-me a cintura. A tua mão molhada passou-me sobre os seios. Desci. Embelezaste-me o colo com o brilho e o reflexo da luz. Não resisto. Tu sobes. Eu desço. Abruptamente fiquei submersa nas tuas águas frescas de rio sem ondas. Assim vou esperar que a maré desça no mesmo vagar com que subiu. E continuar a sentir a tua língua molhada em mim.

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